“Fui abusada quando tinha cerca de 5 anos pelo meu vizinho. Ele tirava a minha roupa, passava a mão em mim...”

Posted: | por Felipe Voigt | Marcadores:
Querido Ogro; Fui abusada quando tinha cerca de 5 anos pelo meu vizinho. Eu e meu irmão íamos sempre brincar na casa dele, pois tínhamos um colega mais ou menos da nossa idade. Porém ele tinha um irmão de aproximadamente uns 18 anos e era ele que abusava de mim. Enquanto meu irmão se entretia com o outro garoto no vídeo game, ele me chamava pra ir ao quarto com ele. Não entendia muito bem o que era e ia...

Ele tirava a minha roupa, passava a mão em mim e tentava colocar o pênis na minha vagina. Eu, por algum motivo, sabia que aquilo era errado, mas não tinha coragem de contar pros meus pais. A minha sorte foi que meu irmão percebeu e fez chantagem comigo, dizendo que contaria na frente da minha mãe. Aí, sim, fui obrigada e tive a coragem de contar.

Contei, mas na verdade, com a minha idade, nem eu imaginava que isso era tão grave. Ela ficou desesperada, mas por falta de informação, não o denunciou. Mas também nunca mais me deixou voltar naquela casa e ficou mais atenta!

Tinha também outro vizinho de uns 18 anos que sempre que me pegava no colo na brincadeira e colocava o dedo dele dentro do meu ânus. Graças a Deus nunca teve a oportunidade de ficar só comigo, senão seria outro trauma!

Enfim, os abusos com o tal outro vizinho eu não me lembro quantas vezes aconteceram direito, mais devem ter sido umas duas vezes. Não sei porquê, mas é como tivesse apagado da minha mente e não consigo lembrar muito bem. Hoje tenho 21 anos e até que não me sinto tão traumatizada. Tenho uma família maravilhosa, mas isso nunca mais foi comentado. Tive sempre problemas com relacionamentos, tinha um pouco de medo dos homens, então nunca tive relacionamentos duradouros. Hoje em dia estou bem, tenho um namorado que me dou extremamente bem e consigo sempre atingir o orgasmo. Ele foi o único namorado que confiei e me senti à vontade para contar minhas coisas.

Esses dias estou me lembrando muito desse abuso e senti um pouco de vontade de contar pra ele. Eu já me vejo superada, mas não sei se conto e como contar. Não sei como ele vai agir... O que você acha? A única coisa que tenho é muito nojo daquele cara que abusou de mim, só que nunca mais o vi, ainda bem... moro até em outra cidade, até!

De qualquer forma, achei bom falar sobre esse assunto que nunca foi comentado principalmente depois que eu passei a entender as coisas, todos sabem que aconteceu da minha família, mas acredito que todos tem medo de tocar nesse assunto.


Minha cara,

Sempre é bom termos acesso a relatos como o seu. Bom pois é um ótimo tapa de realidade na cara daqueles que acham que esse tipo de coisa não acontece, que é exagero e que nenhuma criança se lembraria de algo. Sim, uma criança se lembra e com detalhes. Pois marca de uma forma estranha e diferente do natural ao qual está habituada.

Você mesma fala que não lembra muito, mas dá detalhes. Talvez não se lembre da hora em que era molestada, mas se lembra da sensação e de toda a situação da época. Lembra-se do vizinho, das idades e do que faziam. E da reação do seu irmão e da sua mãe. Isso são lembranças muito claras para você, apesar de ter bloqueado as cenas do abuso, apesar de se lembrar da roupa sendo tirada, por exemplo. Ou ainda do outro que te tocava por trás.

E agora que tem mais condições de entender pelo que passou, é natural que volte mais vezes à tona esse pensamento, mesmo não se lembrando direito. Dá a impressão de que falta algo, não é? Algo não se encaixa, um vazio diferente que você também não sabe explicar. Talvez a sensação de fragilidade volte às vezes e mesmo a insegurança. Um pouco da culpa que não sentiu e sente agora. Ou mesmo a vergonha.

Não se sente traumatizada porque não é, de fato. Passou por um trauma, é diferente de ser traumatizada. Passamos por traumas a vida toda, com impactos diferentes. Mas alguns ditam alguns comportamentos nossos. Outros não fazem tanta diferença, apenas se tornam um amargo gosto. Esse seu medo dos homens e insegurança nos relacionamentos anteriores pode muito bem ser um reflexo disso, mesmo você não sabendo. Ou apenas tenha tido relações ruins e que a fizeram não ter a mesma confiança que tem no seu namorado de hoje. Tudo pode ser relativo ou não, depende da forma como prefere ver, a forma que vai te deixar menos encanada. Ainda mais quando o assunto se transformou em apenas uma lembrança sua e nunca houve uma preocupação da sua família de tentar saber como isso te afetou.

Quanto ao namorado, foco da sua principal dúvida... Antes de qualquer coisa, analise a idade dele e o tempo que estão juntos. Analise friamente, deixe um pouco o sentimento de lado e veja mais racionalmente. Ele será adulto o suficiente para lidar com isso? Ou tem dúvidas sobre como te tratará depois disso? Porque pode ser que você se sinta pior caso a reação dele seja negativa. E não precisa disso agora.

Faça um teste. Comente sobre notícias que leu acerca do assunto. Use o caso da Xuxa, por exemplo, que agora está pauta e converse. Pergunte o que ele achou da coragem dela de assumir um abuso depois de tanto tempo. Se aprofunde, conheça a opinião dele a respeito desse assunto específico. E questione mesmo, sempre a usando como referência para responder as suas dúvidas sobre como ele iria se comportar caso fosse você contando o mesmo.

Há basicamente três formas de um homem agir ante esse assunto: rechaçam e culpam com dedo em riste, são indiferentes e ignoram por não saber ou não querer lidar; ou compreendem e tentam ajudar de alguma forma. Por isso muitas mulheres optam por não contar, por medo da primeira alternativa. Outras até conseguem suportar a indiferença da segunda. Mas é muito melhor quando encontram o conforto da terceira. E isso só saberá conversando.

Tente abordar assim o assunto e isso te dará um norte. Apenas lembre-se sempre de se respeitar e cobrar o mesmo respeito. O que te aconteceu não é demérito muito menos algo a se envergonhar.

1 comentários:

  1. Anônimo disse...
  2. Aproveitando o comentário da colega, gostaria de relatar que aos 4 para 5 anos um primo meu (que cuidava de mim) me levava p o banheiro e roçava o pinto na minha bunda, sem penetrar. Eu não reclamava até porque acho que fazia cocegas (sendo sincero). Passei a reclamar a partir de quando ele queria que eu fizesse sexo oral e disse que iria contar, aí ele parou. Aos 9 anos tive minha primeira relação hetero com uma menina irmã de um amigo a troco de dinheiro. Ele cobrava para deixar a irmã dele transar. Aos 12 anos uma vizinha casada, cerca de 30 anos, me assediou e mantive relação com ela até os 15 anos, quase que uma vez por semana. Hj tenho mais de 40 anos e nunca ninguém ficou sabendo de nada o que ocorreu. Não tenho trauma e nem repúdio de nada do ocorrido e gostaria até de saber o porquê da reação do homem ser diferente da mulher quando a relações na infância? Será que os meninos são "treinados" para a relação sexual mais cedo por questão cultural? Será que as meninas são induzidas ao trauma, por questões culturais, como: "toda menina tem que casar virgem"? Claro, estou falando de casos onde não há violência e nem dor, lembro que, Graças a Deus, o meu primo não penetrou.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...