"Conheci meu pai quando tinha 15 anos e precisei ir morar com ele. Então fui abusada sexualmente pelo período de um ano".

Posted: | por Felipe Voigt | Marcadores: ,
Querido Ogro,

Conheci meu pai quando tinha 15 anos e precisei ir morar com ele. Então fui abusada sexualmente pelo período de um ano. Não tive coragem de contar para ninguém. Desde então nunca tive um namorado pois tenho medo, vergonha, sei lá...

Fico pensando se eu namorar alguém como vou dizer que perdi a virgindade com meu pai? Não sei o que fazer, pois sei que não sou virgem, mas ao mesmo tempo não considero que já tive uma relação sexual entende? O que fazer? Devo dizer a verdade?

Minha cara,

Não acho que deva contar. Não por ser algo que deva se envergonhar, pois o que aconteceu não foi culpa sua. Mas contar para alguém que você ainda não saiba como vai lidar com a informação sempre irá gerar reações que podem te machucar mais.

Há quem sentirá pena, que é das piores coisas que alguém pode sentir por alguém. Quem sente pena se coloca numa posição superior ao outro, a ponto de ter a “humildade” de sentir pena por aquele ser “miserável”. Odeio quem sente pena. Ninguém é digno de pena. Compaixão, sim. Mas pena, não!

E você não precisa de ninguém sentindo isso por você.

Há quem achará estranho e tentará minimizar o que aconteceu, questionando uma série de coisas como sua atitude com ele, se você “o provocou”, que se você não denunciou “é porque estava gostando” e por aí vai. Acredite: o ser humano pode ser tão cruel quanto o seu pai foi com você. Conheço esses idiotas que dão respaldo ao monstro atuar. Conheço de perto a raça.

E você não precisa de ninguém achando que você causou isso a você mesma.

Há quem tentará ajudar de alguma forma e essa ajuda te sufocará. Não por não aceitar a ajuda. Mas por sentir a obrigação de se superar no tempo que os outros acham que você deverá ter para superar. Sabe aquela sensação do “devo melhorar pois o mundo espera que eu melhore”.

E você não precisa superar esse trauma apenas porque estão te pressionando.

Há quem irá te dizer que a superação está no perdão. Usarão religião para te dar “forças”, mas a religião não te dará o que precisa agora. Não precisa perdoar pra superar. Como buscar o perdão a um filho da puta como esse? Você não conseguirá perdoar como esperam e irá se culpar por isso.

E você não precisa de mais uma culpa na cabeça agora.

E, finalmente, haverá quem apenas irá te ouvir. Sem julgamentos. Sem questionamentos morais. Sem te imputar culpa ou responsabilidade. Apenas irá te ouvir. E você sentirá um peso a menos nas costas. Haverá quem apenas irá entender o seu dilema e não te trará respostas, mas apenas trará um ombro.

E você precisa, sim, do alívio por ter dividido a pressão no peito, na cabeça, no corpo.

Não sei se já leu, mas temos outros casos aqui no blog que te ajudarão a entender um pouco mais do que aconteceu com você. Não sei por qual desses casos você chegou até a mim, mas gostaria que você lesse todos. Em cada um tem uma lição que você poderá usar. E se sentir menos “única” no mundo. Sim, nesse caso, saber que não é a única a passar por uma situação dessa pode ser um tanto quanto reconfortante. Leia-os aqui e aqui.

Será difícil quando seu namorado perguntar se é virgem ou não. Mas recomendo que, por ora, você minta. Diga que é. Isso até irá te dar um respaldo para o nervosismo na hora da transa. Por mais que se sinta tentada a abrir todo o jogo logo de cara, isso não te fará bem. Sei que também não fará bem mentir. Mas fará menos mal, entende? E tudo o que precisa é se machucar menos com tudo isso. Deve ser recente e o turbilhão de sentimentos ainda está em ebulição aí dentro desse peito.

E outra: nenhum namoro de adolescência dura a vida toda. Digamos que você conte para o “grande amor da sua vida” e depois de um mês vocês terminem. Você achará que terminaram por causa do que te aconteceu. E ele certamente irá espalhar a história. Aí vem toda aquela bola de neve que comentei mais acima. Reitero: não quero que minta por ser uma história da qual deva se envergonhar. Nada disso. Apenas quero que você se preserve. O dedo em riste e o olhar de piedade são injustos demais. E você não merece isso. O que você merece é mandar tomar no cu quem fizer isso. Combinado? Pode mandar pra casa do caralho sem medo.

Mas o que fazer para te aliviar mais ainda? Procure um terapeuta. Alguém que poderá te orientar semanalmente nas suas dúvidas diárias. Quem sabe assim você até consiga a força necessária para denunciar o filho da puta? Só saberemos se você tentar.


E eu gostaria de ajudar mais, mas preciso de algumas outras informações. Muito do que eu disse acima falei imaginando que você ainda seja adolescente e que tudo isso aconteceu recentemente. Se quiser, um dia desses, me contar, meu e-mail está com a caixa de entrada aberta para você.

Não precisa passar por isso tudo sozinha.

5 comentários:

  1. Sarah disse...
  2. Acredito que não faz muito tempo que você saiu dos 15 anos. Com certeza deve estar naquela onda de namoro de adolescente, na qual se preocupa se seu namorado vai achar ruim ou não você não ser mais virgem.
    Não sei quais foram os motivos que lhe levaram a não denunciar o "monstro". Creio que por ele ser seu pai, se é que podemos chamá-lo assim, mas acho que no seu lugar, o denunciaria, mas isso não vem o caso. O negocio é a sua preocupação em relação ao namorado. Opinião feminina: se ele perguntar diga que não é mais virgem, sem entrar em detalhes. Hoje é muito comum meninas perderem a virgindade cedo. Se ele insistir muito ai você pode mentir, dizer que foi algo superficial para você que não foi com o seu amor de verdade, que não se sentiu amada, desejada, e que está a procura de alguém que lhe faça sentir tudo isso.
    Eu não considero a perda da virgindade o rompimento de um himem, mas a verdadeira perda da virgindade é quando você faz com amor, quando você consegue chegar ao prazer intenso, ao seu ápice e com a pessoa que você realmente ama.
    Voltando ao caso da violência, pensa bem...não guarde isso para você a vida toda. Um dia ele fez com você que era filha, depois ele pode estar fazendo isso com a filha dos outros.
    Juízo!

  3. Anônimo disse...
  4. Compartilhei com o Felipe o abuso sexual que sofri enquanto criança e ele publicou aqui no blog. Sou uma das milhares de meninas que passou pelo mesmo processo que você está passando agora.

    Fui abusada por volta dos 7 anos e cerca de 25 anos já se passaram desde então. Tenho uma vida sexual saudável e consegui superar os traumas que me impediam de me relacionar com outras pessoas, por conta do que eu tinha vivido. Digo que as cicatrizes sempre existirão. Elas não serão apagadas. Mas aprendi a conviver com elas e até mesmo fiz delas um trampolim para poder trabalhar em prol de outras meninas e meninos que são as vítimas da vez.

    Posso afirmar que de todo o processo envolvendo a "cura" que busquei para essa chaga aberta, duas coisas foram fundamentais: Primeiro foi a terapia, pois foi com o apoio de um profissional que consegui externar toda a revolta, dor, mágoa, culpa e vários outros sentimentos que sentia e ainda sinto em relação ao que passei. E a terapia continua fazendo parte da minha vida até hoje. É através dela que passei a me conhecer, saber dos meus limites, gostos e tantas outras coisas que me fazem viver e não apenas sobreviver neste mundo.

    O outro fator importante foi poder contar minha história através do "Querido Ogro" e, com isso, ajudar mesmo que indiretamente outras meninas que viveram situações similares.

    Não somos as únicas e infelizmente não seremos as últimas.

    Algumas pouquíssimas pessoas sabem do que eu passei. O Felipe é uma delas. Como ele bem disse, nem todos têm uma reação positiva (mesmo que inconscientemente) e acabam por nos violentar novamente com perguntas descabidas. É preciso sentir segurança para tal confidência.

    Concordo com todas as orientações que o Ogro te deu e sugiro que abra-se mais para o Felipe através do email. Ele é sempre muito sábio e coerente com tudo o que diz. Você vai se sentir muito bem.

    Leia as outras histórias aqui no Blog, inclusive os comentários. Trocar informações com quem vivenciou tudo isso é sempre muito bom.

    Desejo que você enfrente com coragem todo esse processo de superação e tenha certeza: a superação é real e possível.

    Grande abraço.

  5. Carol Viana disse...
  6. Duas barras pra superar...
    o "pai-monstro" e a questão da virgindade, do que ela significa pro namorado.
    Como ele irá reagir ao saber que vc não é mais "virgem"...
    Bem, vamos lá... a primeira transa, principalmente pra mulher, é algo cheio de simbolismos e por que não dizer, romance...
    Nesse caso, você deve sentir que isso foi perdido de alguma forma e foi.
    Só que em nenhum monento, isso deve virar CULPA ou VERGONHA na sua cabeça.
    Nem se preocupar em agradar o namorado. Você é quem decide o quanto da sua história você vai expor. E quanto de merecimento cada pessoa tem para vc dividir isso.
    Concordo com o Ogro. Não é esconder por vergonha, mas existe sim, uma necessidade de preservação. Ainda mais se você estiver na adolescência.. isso pode virar uma bola de neve sem fim e você ainda não ter estrutura para lidar com dedos em riste. Acredite: difícil até para mulheres adultas ( caso vc já seja uma).
    Conselho sábio para procurar um terapeuta. Não porque vc tenha um problema. Mas pra vc conseguir ser uma pessoa melhor APESAR DISSO ou JUSTAMENTE por isso.
    Encontrar forças dentro de você mesma e não ceder a nada por se sentir inferior devido ao julgamento alheio.
    O maior motivo desse blog acredito eu que seja O ALÍVIO DE SABER QUE NINGUÉM precisa passar por nada sozinho.
    O Felipe não é psicólogo, tampouco nós que aqui comentamos.
    Mas somos seres humanos que acreditam que a troca de experiências e o ombro ao invés do dedo em riste, podem sim, operar façanhas.
    Beijos e força.

  7. Anônimo disse...
  8. Cara Amiga!
    A duvida que vc apresentou deve ser uma, a maior neste momento, das muitas que afligem sua pequena cabeça. Como bem disse o Felipe, vc não precisa e nem deve passar por tudo isso sozinha.
    Passei por um problema muito semelhante ao seu, sou muito ruim de mentir, enganar e dissimular as coisas... Por isso sempre omiti, qdo achava q a pessoa não me entenderia ou contava a verdade parcial, a que eu achava que seria "melhor recebida". Vivi muito preconceito de quem eu achava que me acolheria e fui acolhida por muitos que eu acreditava que iriam me julgar.
    Portanto, para esta sua duvida pontual, digo: confie no seu coração e divida o peso com quem vc sentir que merece. Mesmo que esta pessoa aja com preconceito, o erro esta nele, não em vc! E isso significa que esta pessoa não tw merece... Não se envergonhe e nunca aceite nenhum tratamento indigno!!
    Você criara um radar pra reconhecer pessoas em quem confiar ou não. E, como alguém me ensinou, limite o acesso de babacas a sua pessoa!

  9. Anônimo disse...
  10. Desculpe-me, mas isso aí é caso de polícia e ponto final!

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